segunda-feira, junho 21, 2010

Quantos anos? Uma eterniade.
Quantos anos? Tempo algum.
Por que tanta infância, por que tanto medo, por que tanta diminuição?
Por que me escondo no barulho das portas batendo, no meio dos gritos dos adultos e nos cantos da falta de consideração que deixa a boca dizer o que quer e não quer?

Por que não deixo passar, como a caravana com os cãos ladrando? Porque não sou a caravana que passa? Por que sou quem está no meio da caravana e dos cães, temendo as pisadas e os latidos?
Por que deixo que a caravana me amedronte e que os latidos me intimidem?

Por que deixo? Por que permito?
Quanto deixo? Quanto permito?
O que deixo? O que permito?

Cadê você? Aparece!
Cresce e aparece, porque por fora você já cresceu e tem aparecido!
Por que você aí dentro corre pra dentro? Tanto medo de quê?
O medo é de ser igual? Ou de fracassar e NÃO SER igual?
Você tem medo de que? Você tem fome de que?
Tem raiva de que? Ama o que?
Quem é você?
Não sei.

Não sei mais.

Por :: Giancarlo Zeni | segunda-feira, junho 21, 2010 | ::



sábado, setembro 16, 2006



A língua lambe
(Carlos Drummond de Andrade)

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos

Por :: Giancarlo Zeni | sábado, setembro 16, 2006 | ::



quarta-feira, julho 19, 2006


Quem te viu, Quem te vê

(Chico Buarque)

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua


Hoje o samba saiu, lá lalaiá, procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer


Quando o samba começava você era a mais brilhante
E se a gente se cansava você só seguia a diante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado


O meu samba assim marcava na cadência os seus passos
O meu sonho se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão


Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia


Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você me assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade por favor não de na vista
Bate palma com vontade, faz de conta que é turista


Por :: Giancarlo Zeni | quarta-feira, julho 19, 2006 | ::



quarta-feira, maio 03, 2006


Você
Não preciso olhar para você mais que alguns minutos para ter certeza do que me seduziu. Não preciso procurar os motivos, pois eles fazem questão de transbordar, e ficam acessíveis numa primeira mirada. O ar descontraído de menina, por exemplo, não é artifical, forçado. É uma aura de menina vivida, de menina que já viu de tudo um pouco, de menina que andou pelos anos - e que não deixou que os anos andassem por si.
A graça do movimento é aquela de quem conhece seu corpo, sabe de seu poder, sabe de seus domínios; mas também sabe de seus infortúnios. O autoconhecimento, propiciado pela longa convivência consigo mesma, lhe dá essa certeza e essa afirmação na cadência do andar. Claro que você tem medos, inseguranças; mas deixa isso bem claro, não esconde. Você sabe, afinal, da normalidade que isso constitui. Não busca se esconder debaixo duma carapaça de perfeição. Não.
A medida da sensualidade, ah!, só você tem. Sabe do seu corpo todo, das sensações que ele provoca, do que cada parte é capaz de inspirar. Talvez você nem saiba que sabe, e isso lhe dá um encanto muito maior. Esse jogo velado, isso pertence só a você. Essa diferença fundamental, que a faz deslumbrante, e não deslumbrada...isso te faz mulher. MULHER.
E na cama, meu amor...na cama! Não há gemido melhor que o teu, não há rebolado melhor que o teu, não há boca como a tua, não há gosto como o teu. Na cama, a fêmea graduada, sem necessidade de muita opinião, é uma puta deliciosa, que sabe ser só minha. Você aprendeu que entre quatro paredes e dois amantes tudo vale. Isso te faz irresistível. E aí se fundem, nesse ápice de amor, menina e mulher. Numa mistura maravilhosa, você é só carinho.
Como eu poderia não te amar?

Por :: Giancarlo Zeni | quarta-feira, maio 03, 2006 | ::



quinta-feira, abril 27, 2006

Espelho Meu

Quantos anos naqueles dois cigarros? Quantos anos foram-se pela pia, junto às cinzas, escorrendo pelo espelho que me refletia? O cenho franzido pelo azedume de amargura verdadeira fazia a pouca idade cair por terra e espatifar-se em milhares de caquinhos de desilusões. Nesses dias em que você se pergunta se isso é vida ou é sonho, tudo soa muito surreal. Tudo soa muito apático, desconexo. Falta um superbonder ou durepoxi algures, pra fixar bem as coisas em seu devido lugar. Manias de velho: tudo no lugar.

Dizem que você sabe que envelheceu quando olha no espelho, barbeando-se ou fumando, e se percebe - de repente - parecido com seu pai. Para qualquer um, pareceria absurdo dizer que envelheci. Mas quem me viu ontem e me viu hoje poderá até contar cabelos brancos antes inexistentes. Velho, chego até a achar graça, um certo deboche, nessa adstringência dos fatos - que chega a repuxar no fundo da língua, como se fosse uma banana verde que me obrigassem a comer, sem poder cuspir. Mas paro, olho, e rio. Simplesmente rio de toda essa merda. A merda nem é minha afinal. Mas eu sou velho, sou agora um velho que acha que toda a merda do mundo tem a ver comigo.

Dou aquele sorriso torto, jocoso. Imprimo no espelho filho-da-puta um olhar de escárnio. Na mão que segura o cigarro aparece, de repente, um osso que nunca esteve ali. Minhas mãos emagrecem, murcham, ficam quadradas, senilmente manchadas. As buchechas caem, ainda sorrindo. A pele do rosto fica quebradiça, meio árida. Um sulco horrendo se desenha no pescoço. A pele firma escorre pelo cansaço. Um velho.

A vida não é linda, não é um filme de Audrey Hepburn. Ela é amarga, chata, carrasca, incompreensiva, tirana, filha da puta, quenga velha, monstra nojenta que se revela em descobertas pavorosas que nunca deveria ter tido. Mas é, também, doce como o beijo da namorada, afável como um cafuné, suave como uma brisa na praia de Copacabana numa terça-feira à tarde, ardente como uma trepada colossal, assim meio classuda-e-recalcada, enrustida, mas que se solta pra ver o sol se pôr ou nascer a cada vez que damos amor e perdão.

Rejuvenesci.

Por :: Giancarlo Zeni | quinta-feira, abril 27, 2006 | ::



terça-feira, janeiro 17, 2006

A mulher depois que ama
(Affonso Romano de Sant´Anna)

Reparem, estou dizendo: depois que ama. Não estou me referindo a ela enquanto está no ato do amor. Disto se pode falar também, e a literatura a partir do romantismo e depois o cinema, modernamente, já tentaram de várias formas simular na relação amorosa como a mulher suspira, se contorce, desliza as mãos e entreabre a boca do corpo e da alma.

Mas, quando digo "depois que ama", refiro-me ao estado de graça que a envolve após o gozo ou gozos, e que perdura horas e horas e às vezes dias. Fica macia que nem gata aos pés do dono. Mais que gata, uma pantera doce e íntima. Sua alma fica lisinha, sem qualquer ruga. A vida não transcorre mais a contrapelo.
Desliza.

Ela tem vontade de conversar com as flores, com os pássaros, com o vento. Sobretudo, descobre outro ritmo em sua carne. É tempo do adágio, de calma e fruição. Neste período, aliás, o tempo pára. Em estado de graça ela se desinteressa do calendário. O cotidiano já não a oprime. É a hora de uma ociosidade amorosa. O fato é que a mulher nessa atmosfera sai do trivial, se agiliza e glorificada, pervaga pela casa.

O homem, animal desatento, às vezes não se dá conta. Em geral, nunca se dá conta. Ou dá-se conta nos primeiros minutos após o ato de amor, e depois se deixa levar pela trivialidade, deixando-a solitária em sua felicidade clandestina. Na verdade, ela sobrepaira ao tempo, está adejando em torno do amado, que deveria suspender tudo para sentir desenhar-se em torno de si esse balé de ternura. Deveria o homem avisar ao escritório: hoje não posso ir, estou assistindo à reverberação do amor naquela que amo. E como isto se assemelha à floração rara de certas plantas. Os amados deveriam interromper tudo: seus negócios e almoços e ficarem ali,prostrados, diante da que celebra nela o que ele ajudou a deslanchar. Já vi algumas mulheres assim. Era capaz de pressentir a 115 m que elas estavam levitando de tanto amor que seus amados nelas desataram.

Há uma coisa grave na mulher que foi ao clímax de si mesma. Que não esteja distraído o parceiro ou parceira. Ela tem mesmo um perfume diverso das demais. É um cio diferente. É quando a mulher descerra em si o que tem de visceralmente fêmea, tranqüila que, mais que possuída, possui algo que atingiu raramente. As outras mulheres percebem isto e a invejam. Os machos farejam e se perturbam. É como se estivessem num patamar seguro a se contemplar. É quase parecido a quando a mulher vive a maternidade. Mas aqui é ainda diferente, porque na maternidade existe algo concreto se movimentando dentro dela.

Contudo, nessa atmosfera que se segue a uma epifânica sessão de amor, diverso, porque ela está acariciando uma imponderável felicidade. Estou falando de uma coisa que os homens não experimentam assim. O gozo masculino é mais pontual e parece se exaurir pouco depois do próprio ato. Só os escolhidos, os de alma feminina, vez por outra, o sentem prolongar-se dentro de si. Mas em geral, é diferente. Terminado o ato, uns até rolam para o lado e dormem como se tivessem tirado um fardo do ombro, outros acendem o cigarro, vestem suas ansiedades e voltam ao trabalho. É constatável, no entanto, que o homem apaixonado também transmite força, alegria, energia. Ele oscila entre Alexandre o Grande e o artista que chegou ao sucesso.

Também brilha.

Mas é diferente.



Por :: Giancarlo Zeni | terça-feira, janeiro 17, 2006 | ::



domingo, dezembro 11, 2005


Busco desesperadamente o sentido de viver; e enquanto ele não me aparece, e enquanto não tenho-me por apto a designá-lo eu próprio, passo meus dias enrolado com leituras, músicas e gentes. Os humanos são meu grande paradigma. Quem somos? Por quê? Pra quê? Onde? Como? Ãhn?


Considero muito as pequenas e delicadas belezas; é nos pequenos gestos que as grandes almas s'encerram, alguém já disse.
Gosto muito de ler e de conversar. Acho que é mais ou menos por aí que a gente vai vendo quem é... Não deixa de ser curioso: é nos outros que nos descobrimos.


Quero cumprir o propósito que cabe na Terra - a busca da beleza, da felicidade, da amizade, do altruísmo... É tudo muito complicado, muito idealista...mas é no que acredito. O pouco que acredito. Faria muita diferença se você compartilhasse comigo.


Não nos atenhamos ao cenário: encenamos a mesma peça há muitos milênios. Tudo que muda, muda só na aparência - diz o gaúcho grosso lá da fronteira, que em nada deve ser muito pior que o sujeito refinado lá de Paris. Na nossa peça milenar, os mesmos atos têm espaço, e às vezes a encenamos tal qual comédia, outras vezes como tragédia. Que diferença? Reafirmo, caro amigo, que só muda o cenário. E desse cenário eu já cansei, dessa peça eu já cansei.


Vamos fazer uma outra peça?

Não hesite em me contactar.


Por :: Giancarlo Zeni | domingo, dezembro 11, 2005 | ::





Por :: Giancarlo Zeni | domingo, dezembro 11, 2005 | ::



sexta-feira, dezembro 09, 2005

Ah, Moleque! (Molejo)

Não é brincadeira amor
É serio, tá na cara
Quando sinto o teu calor
Desperta tanta tara

Estou na terra, estou no céu
Rumo ao infinito
O que rola entre nós dois paixão
Não há nada mas bonito não

Esse teu jeitinho de amor a toda hora não faz mal
Esse teu carinho de encher a minha bola é legal
Fico todo derretido amor
Em ouvir você falar

Ah! Moleque, Ah! Moleque
Eu sei que você veio nesse mundo pra me dar prazer
Ah! Moleque, Ah! Moleque
Você um dia desse com certeza vai me enlouquecer


That's it, really! *~

Por :: Giancarlo Zeni | sexta-feira, dezembro 09, 2005 | ::





Do Blog Uva na Vulva

Por :: Giancarlo Zeni | sexta-feira, dezembro 09, 2005 | ::



segunda-feira, dezembro 05, 2005

Direito a viver. É só o que peço.
Não quero que me ensinem, não quero que me ajudem, não quero que resolvam por mim, não quero que evitem que eu quebre a cara, não quero que me poupem de nada.
Quero tão somente o direito de viver. De fazer tudo conforme acredito e concebo.
Não quero que me segurem a mão ou me levem no colo!
Quero mais é que me deixem ir sozinho, mesmo que eu caia. Depois eu levanto.
Se precisar de ajuda pra levantar, aliás, eu chamo - não precisa vir correndo.
A maior contribuição que o homem pode dar pra sua felicidade é olhar mais pra própria vida e menos pra do vizinho. Em termos cientificistas, espirituais, filosóficos e o escambau a quatro isso é superar o egoísmo, promover a reforma íntima, sublimar-se. Mas a sabedoria popular resume tudo numa profícua frase: CUIDA DA SUA VIDA, CACETE!
É proibido proibir. Nisso insisto.
Vem a desculpa..."Quem ama não quer ver sofrer".
Então por que prende?
Quem ama liberta.
Quem ama deixa amar.
A mãe separada (que não é nem tem que ser super-heroína, que não tem que viver só pelos filhos),
o filho gay (que não é menos humano nem menos normal que você),
o irmão retardado (que certamente é melhor que você em alguma coisa - dizem que os retardados são ótimos filósofos, do topo de seu simplismo),
a cunhada piranha (cada um escolhe quantos e como ama...),
o primo nerd (a modalidade do amor esculpida por Platão é das mais belas, ainda),
...
...você (enfie aqui neste entre-parêntesis o que você tem de pior e descubra que nem por isso você deixa de ser gente, deixa de ter direito a viver e a amar).
Não proíba que se ame, não proíba que se viva. É o único e maior e mais horrendo dos crimes e pecados contra Deus e os homens e você mesmo e o Tempo e os séculos dos séculos de toda a vastidão Universal.
Viva e deixe viver, ame e deixe amar, saiba e deixe saber, entenda e deixe entender.
Vazio. E deixe vazio.
Ou cheio.
Mas não encha o meu, tá bom?

Por :: Giancarlo Zeni | segunda-feira, dezembro 05, 2005 | ::



quinta-feira, novembro 03, 2005


Cadê?

Cadê, cadê a utopia?
Cadê o sonho?
Cadê?

Perdemos no caminho de tantos destinos, de tantas vidas. Perdemos o sonho no meio de tantos sonhos e a poesia no meio de tantas poesias; perdemos o que achávamos que tínhamos achado no meio de tudo aquilo que perdido já estava, desde sempre.

Perdemos o sonho que muitos acharam que encontraram, como tínhamos achado também; perdemos aquela esperança em versos e rimas, em colunas e alguma diagramação. Perdemos um, dois, três, dez anos: apenas em alguns meses, apenas em algumas desilusões.

Perdemos a Utopia. E não falo apenas do jornal.

Por :: Giancarlo Zeni | quinta-feira, novembro 03, 2005 | ::





Giancarlo M. Zeni. Rio de Janeiro-RJ. Neo-liberal, privatizador, italiano carcamano, meio-libertário-meio-positivista, hierárquico, disciplinador, autárquico, culturalmente preconceituoso, tijucano, meio-frio-meio-passional. E muito mais.

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